Por Marília Monitchele Atualizado em 21 fev 2023, 17h20 - Publicado em 21 fev 2023, 17h19
Representação digital do interior
da Terra, dividido em camadas - Nasa/Divulgação
Se pudéssemos comparar a Terra
com um objeto do nosso cotidiano, ela seria parecida com uma cebola. A
estrutura interior do nosso planeta consiste em uma série de camadas
concêntricas desde a crosta até o núcleo, que vão se tornando cada vez menores
e mais densas. Uma nova análise de seu interior sugere a existência de uma
camada mais interna, além daquela que se imaginava o limite interior.
A ideia pode parecer confusa, mas
é como se o que imaginávamos ser a última camada de nossa cebola tivesse mais
uma camada ainda menor escondida. Esse detalhe pode revelar alguns aspectos
novos sobre a história da formação e evolução da Terra, sugerindo um evento
global significativo no início da história do nosso planeta.
Já era sabido pela comunidade
científica que no interior da Terra havia um núcleo com um raio de cerca de
1.227 quilômetros composto majoritariamente por ferro e níquel, correspondendo
a menos de 1% do volume total do planeta. Há mais de 20 anos, no entanto,
pesquisadores identificaram a presença de um núcleo ainda mais profundo, que
eles chamaram de núcleo interno mais interno. Mas descobrir mais sobre ele
ainda é um desafio.
Não podemos simplesmente perfurar
a terra da crosta até seu núcleo, então essa parte misteriosa fica protegida
por inúmeras camadas. A solução é confiar em ondas sísmicas que se propagam do
interior do planeta e que variam conforme a densidade das camadas. Isso não
simplifica o trabalho dos pesquisadores, que ainda precisam espalhar as
estações sísmicas em lugares específicos a fim de obter resultados mais
precisos, o que está longe de ser uma tarefa fácil.
Uma equipe de sismólogos da
Australian National University parece ter descoberto uma maneira de superar
essas limitações ao conseguir extrair dados de estações de monitoramento
sísmico que dizem respeito ao núcleo interno mais interno. Quando, por exemplo,
um terremoto de grande magnitude sacode a Terra, o evento gera ondas pelo
planeta, essas ondas viajam por suas camadas internas. Foi observando esses
movimentos que o estudo detectou o comportamento do novo núcleo terrestre.
Os cientistas sabiam que as ondas
sísmicas atingem um limite gerando uma reverberação, como um eco, muito mais
fraco. Ao perceberem a passagem planetária dessas ondas, estudos anteriores não
detectaram mais que duas passagens desse tipo. O artigo australiano, no
entanto, empilhou dados, estabelecendo uma coleção de sinais sísmicos em um
único traço. Assim, conseguiram amplificar eventos sísmicos de grande
intensidade identificando um número maior de ecos resultando em uma sondagem
detalhada do núcleo interno.
Essas diferentes ondulações
identificaram que o núcleo interno ainda mais interno não ultrapassa os 650
quilômetros de diâmetro e é composto por um ferro denso. Essa estrutura pode
ser o resultado de uma mudança fundamental no crescimento do núcleo interno em
algum momento do passado do planeta.
O núcleo interno da Terra é
fundamental para a manutenção da vida. Isso porque, à medida que cresce, o
processo libera luz e calor, o que impulsiona a convecção do núcleo líquido
resultando em um processo de transformação de energia cinética em magnética. O
campo magnético criado mantém a radiação prejudicial fora, criando uma
atmosfera favorável à vida. Mudanças nesse núcleo podem alterar essa dinâmica e
ter implicações na habitabilidade do planeta ao longo do tempo.
https://veja.abril.com.br/ciencia/estudo-sugere-que-centro-da-terra-e-diferente-do-que-se-imaginava/